JÚLIA REBECA: MORREU DE UMA VEZ, PARA NÃO TER QUE MORRER TODO DIA

HOMENAGEM À LINDA JÚLIA, QUE CEIFOU SUA VIDA PARA NÃO TER QUE MORRER TODO DIA...


     
Que as paredes pagas dos motéis se dissolvam e revelem o sexo carcomido das pessoas machistas que corroboraram cotidianamente com o suicídio da jovem piauiense de 17 anos. Que saibamos o valor que muitas vezes pagam para se apropriar de um corpo e, por vezes, impingir-lhe agressões e humilhações. Que os seus desejos mais abjetos e infiéis aos bons costumes sejam sistematizados e pregados nas portas das igrejas que frequentam aos domingos. A juventude que está aí sente-se ávida por saber posições novas para além do father-and-mother. E essa mesma juventude, que foi (des)educada nesse machismo milenar, precisa se despir, porque a filmadora pode até não registrá-la, mas as suas vestimentas patriarcais continuarão a fazer muitas vítimas, inclusive ela mesma. Há tanto gozo pela frente. Era pra ter, ao menos. Há violência mais simbólica do que uma mulher ceifar a própria vida a ter que enfrentar o aviltamento público por ter a sua intimidade exposta nessa sociedade machista? Ela, Julia, decidiu por morrer. E, se estivesse viva, seria morta todos os dias. Pelos dedos esticados, pelos risos, pelos deboches, pela exclusão. É dureza, viu. Não há roupa preta que dê conta de tantos lutos. Um dia desses, já não aguentando mais, tiraremos a roupa nesses dias turvos. Pela vida nua e jovem que se foi.

(TEXTO DE LOURIVAL DE CARVALHO)


     Lourival de Carvalho é Advogado, OAB-PI, ,defensor dos DIREITOS HUMANOS e da LIBERDADE DE SER DIFERENTE.




CONHEÇA O CASO:


A Delegacia Regional de Parnaíba localizou novo vídeo da adolescente Júlia Rebeca, de 17 anos, que cometeu suicídio no último domingo em quarto de sua residência na cidade de Parnaíba (354 km de Teresina).

No novo vídeo, a jovem mantém relações sexuais dentro do banheiro com um jovem, aparentemente maior da idade. Uma terceira pessoa fez as filmagens e desta vez, Júlia Rebeca não percebe a filmagem da relação sexual porque a gravação é feita de uma espécie da janela aberta na porta do banheiro.

Seu parceiro, porém, sabe que a relação sexual está sendo filmada e sorri, com desdém, pelo menos por três vezes.

São dois vídeos que circulavam na internet e em telefones celulares antes de Júlia Rebeca veicular mensagem no Twitter pedindo desculpas para sua mãe e cometer suicídio, no dia 10 de novembro.

No primeiro vídeo que vazou na internet, Júlia Rebeca aparece mantendo relações sexuais com um casal de jovens, aparentemente de sua faixa etária.

A outra adolescente que aparece no vídeo com relação sexuais a três tentou cometer suicídio na quinta-feira última em Parnaíba, onde reside.

Ela foi internada no Pronto-Socorro do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda) de Parnaíba com princípio de envenenamento. A jovem foi socorrida pelos médicos do hospital e voltou para sua casa sem risco de morte.

A Polícia Civil de Parnaíba descarta que a jovem que tentou suicídio tenha sido a autora da distribuição do vídeo.

Os principais suspeitos são os jovens que aparecem ocultos nas duas filmagens, a da relação sexual no banheiro e na relação sexual a três.

O delegado Regional de Parnaíba, Rodrigo Moreira, que investiga o caso do suicídio de Júlia Rebeca, que morreu após vazamento dos vídeos, solicitou perícias em celulares da vítima e de suspeitos.

Segundo Rodrigo Moreira, a investigação é para detectar o autor da distribuição do vídeo.

A família denunciou que a estudante teria se matado, após ser espalhada uma gravação em que ela aparece fazendo sexo com duas pessoas – um rapaz e uma outra garota.

O delegado Rodrigo Moreira disse que vai solicitar também informações à administradora do aplicativo WhatsApp, onde o vídeo circulou.

Ele acrescentou que solicitou perícia em celulares e está analisando todas as redes sociais que foram usadas para a divulgação do vídeo.
Os responsáveis pela veiculação do vídeo irão ser indiciados por crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Integrantes da família e amigos de Júlia Rebeca serão ouvidos no inquérito aberto pela Polícia Civil de Parnaíba.

Júlia Rebeca foi encontrada enrolada no fio de uma chapinha de alisamento de cabelos no último dia 10 de novembro.


Em mensagens deixadas suas páginas do Instagram e do Twitter, a estudante pede desculpas à família e antecipam o suicídio.

Nenhum comentário: