Dias passam, enfim atingimos a fase adulta e com ela surgem as dificuldades e os obstáculos. Em determinados momentos, como forma de fuga, fechamos os olhos e, por alguns minutos, recordarmos momentos felizes, nos transportando para um passado que se inicia em nossa infância. Impossível esquecer as brincadeiras, as noites em que dormíamos cansados de pular e de correr em busca da felicidade, caindo e levantando em um ritmo frenético e contagiante. Mas infelizmente nem sempre isso acontece. A realidade da maioria das nossas crianças é outra. Os direitos de brincar, praticar esportes, bem como a liberdade, a proteção, a educação e a preservação da sua integridade física, psíquica e moral não ultrapassam as linhas escritas nos artigos que regulamentam o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A violação desses artigos está diante de nossos olhos no momento em que saímos de nossas casas e constatamos as mais diversas formas de exploração do trabalho infantil. É comum encontrarmos em Pedreiras crianças comercializando doces, miques, engraxando sapatos e vendendo amendoins e ovos cozidos em bares, enfrentando as madrugadas frias e os perigos da noite. Enquanto os filhos de pais da classe média jogam futebol nas quadras da AABB, CRESSUPE, ETC... em um belo domingo de sol, crianças com bacias, e isopores passam oferecendo seus produtos debaixo de uma temperatura altíssima e sem a mínima proteção. A lei é taxativa contra qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. Todavia, como cobrar uma posição do Judiciário para fazer cumprir a lei uma vez que observamos os próprios pais fazendo dos seus filhos operários? A erradicação do trabalho infantil vem sendo meta e proposta de muitos governos, são traçadas as diretrizes e elaborados planos que, na prática, não surtem efeitos positivos que beneficiem crianças e adolescentes. Os dias passam também para esses operários mirins, chegando para eles a fase adulta. Quais lembranças de sua infância virão a sua mente? As vezes em que foram maltratados ao oferecer seus produtos ou serviços, as noites em que não dormiram, pois enfrentavam o frio da madrugada com as flores que murchavam junto com a esperança de saciar a fome ao ouvir um não, ou as surras que os esperavam quando não contavam com a sorte e retornavam de mãos vazias. Afortunados, assim podemos qualificar os que buscam e encontram as lembranças de uma infância saudável. Essa é a fase em que devem acontecer as descobertas, onde as crianças podem correr livremente, aprendendo naturalmente que precisam levantar após cada queda, época em que as atividades são desenvolvidas com satisfação, em que deveria ser permitido brincar de tudo, menos de trabalhar.
Um comentário:
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