REFLEXÃO: AINDA HÁ TEMPO?

O tempo passa, mas a ficha não cai. A economia brasileira cresce a olhos vistos. Porém, o desenvolvimento humano da nação segue no atraso. Os indicadores que avaliam as duas variáveis não andam juntos. Os da primeira sobem. Os da segunda não saem do lugar. A farta oferta de produtos e serviços aliado à distribuição de recursos financeiros à população pobre, endinheirou o povo. Inseriu-o no rebanho de consumidores, mas não fez ele ter melhor qualidade de vida. Embora em nível econômico mais elevado, as classes sociais são as mesmas. A desigualdade é flagrante. Rasga nossa Constituição. Ignora a ética. Enfraquece a cidadania. Acentua vulnerabilidades. Condena faixas etárias inteiras a carências diversas e a riscos de extinção degradante. A temperatura da violência é bem mais alta que a do aquecimento global. Agrava a ameaça à vida das pessoas. Só não o sente quem é muito frio. Afora acidentes menos extremos em que se envolvem, crianças e adolescentes abandonados à própria sorte são alvos de chocante extermínio. Quase que diariamente um, ou uns deles morrem vítimas de homicídio.No post anterior falmos da dificuldade de vivermos em Pedreiras dada a violência que para nós só existia no Rio e em São Paulo, mas que está alcançando níveis cada vez mais preocupantes. Observo que a situação esta descontrolada a ponto de a própria polícia fazer vista grossa, frente a suas imcumbências, ou seja, todo mundo sabe onde tem boca de fumo e quem são os traficantes, mas nada acontece. As vezes parece que estamos aceitando perder a guerra. Pedofilia, prostituição, trabalho infantil e abusos de toda ordem transitam na perigosa rota das drogas, gerando nas madrugadas delinquentes que servirão às drogas. Entre as armas diabólicas que afetam mortalmente nossa sociedade, merecem destaque a preocupação com o crack e a permissividade com o álcool . Os graves estragos produzidos pelas substâncias tóxicas destes dois produtos são conhecidos. O primeiro deles é combatido pela polícia. O outro por frases de efeito: "Se beber, não dirija" e "Cigarro faz mal à saúde". A indução televisiva ao consumo de álcool é sedutora. A do fumo dispensa a televisão, tem veículos próprios. As cidades estão cheias de bares, e crackolândias. Na lógica reinante, uma simples frase resolveria o problema: "Se usar crack, não durma na rua". Boa parte de tantas chagas da sociedade decorre do descaso com que a infância é tratada. Não investir em saúde e educação nos primeiros anos de vida é perder oportunidade irrecuperável. A ciência o comprova. Contudo, o país continua sonhando com Copa do Mundo, estádios, aeroportos e outros megaequipamentos urbanos que reproduzam a dinâmica do pão e circo do antigo Coliseu. A Constituição brasileira determina prioridade absoluta aos direitos de crianças e adolescentes. Apesar disso, somente uma pequena parcela da população na primeira infância tem acesso às necessidades requeridas para o desenvolvimento integral. Os efeitos são previsíveis. Estudantes brasileiros mostram baixo desempenho em matemática, ciências e leitura. Ficamos em 53º lugar na avaliação que testou alunos de 65 países. Segundo pesquisa da CNI, 70% dos empresários têm dificuldade para contratar trabalhadores qualificados. Capacitá-los na empresa é frustrante. A baixa qualidade da educação básica que receberam na infância limita a aprendizagem. O desafio é gritante. A evidência, incontestável. A prioridade é constitucional. Se a ficha não cair agora, amanhã será tarde demais.

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