IGUALZINHO - EDSON VIDIGAL



Por Edson Vidigal

Como dizia Torquato, o poeta, num dos seus versos que mais aprecio -“as noticias que leio conheço / já sabia antes mesmo de ler”, tudo parece igual, igualzinho.

Você pega os jornais do País parece que combinaram. As frases da manchete parecem diferentes, mas o assunto é quase sempre o mesmo.

Ligas a TV a cabo ou a aberta e sais catando os noticiários. E lá vêm as mesmas notícias repetidas. Mudam as caras dos apresentadores.

Faltam acontecimentos novos ou mais interessantes, é preguiça mental ou falta de imaginação? Nada disso.

Acontece que, afora as mais escabrosas que não interessa aos donos da opinião publicada sair falando, tem outras coisas rolando por aí e são tantas e já parecem tanto umas com as outras que se ocupar com elas acaba saindo algo assim como chover no molhado.

Quem é que vai se ocupar em destrinchar as mazelas contra o orçamento público, os desvios dos dinheiros da saúde e da educação, os hospitais que não atendem, as escolas que não dão aulas?

E a agua potável, tratada, limpa, pronta para o consumo humano, que falta a centenas de milhares de pessoas, mesmo a aquelas que vivem a ilusão das torneiras?

Centenas de milhares também vivem oprimidas nas esperas dos ônibus nos abrigos que nada abrigam servindo apenas de referencia para as paradas dos ônibus em incertos horários.

O transito caótico inventa nos horários de maior pique serpentes enormes de automóveis se estendendo pelo asfalto, envenenando o ar, conspurcando os relógios como se quisessem parar o tempo. E ninguém consegue chegar a tempo a lugar nenhum.

Uma fruta esbagaçada no meio da rua, um cão mancando por um meio fio, um motoqueiro estendido, atropelado, tanto faz, quem ainda se incomoda se isso já está no cotidiano, se acontece todo dia?

Fico de olho no caminhão – pipa que passa enorme e soberbo quase sempre às mesmas horas e fico curioso querendo saber-lhe o destino. Sua ida e volta.

A duas quadras, no outrora, passava um rio que anos depois se apequenou, virou riacho. Hoje é um córrego ainda suportando no leito ciclos de esgotos e de lixo.

E esse caminhão – pipa segue todo dia quase sempre no mesmo horário para se abastecer aonde mesmo? O certo é que o seu dono tem uma clientela cativa num desses subúrbios onde não obstante os canos e as torneiras a agua nunca chega.

É quase impossível ao cidadão, pessoa direita, ter alguma arma em casa para se defender, mas os bandidos hoje não deixam por menos – estão assaltando e matando com arma de fogo privativa da Policia ou das Forças Armadas. Nas praias se fingem de pescador e atacam com enormes e bem afiadas facas peixeiras.

Se você está em sua casa, corre risco. Se você sai à rua, corre risco. Estamos hoje como nos anos de chumbo, naquele tempo descrito na canção – “ao dobrar uma esquina / atenção menina / tudo é perigoso / (...) é preciso estar atento e forte...”

Ah meu Deus! Com isso tudo acontecendo a toda hora assim quem é que vai achar que isso tudo assim é novidade? Saudades da Tropicália – “A bomba explode lá fora / e agora o que vou temer?”

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